Quem ver bem, ver com a alma - Renato Russo

 Quem ver bem, ver com a alma  - Renato Russo

 

Quando estive na terra, muitos dos aspectos relativos a vida eu não compreendia, talvez não quisesse ou o interesse fosse pequeno.

A porta larga me oferecia mais do que bem estar.

Oferecia-me a falta de limites.

Não me incomodava.

Vivia ao meu modo, que aguentassem as minhas intransigências, aliás, intransigências não, cegueira de alma mesmo.

Iludido com as facilidades de ação, de pensamento, do não “está nem aí”, fui afundando no poço do meu romantismo inverso.

Não percebia o que se passava de bom e eu acabei não me vendo como deveria.

Era muito alertado pelos meus pais.

Mas e eu?

“Nem aí”.Para que atender as referências paternas, eu as considerava caretas, e eles controladores.

Não suportava ser controlado. Que me deixasse viver como gostava. Se não me desse bem, com certeza não iria colocar culpa em ninguém.

Fui me armando a cada dia de respostas que ao meu ver eram plausíveis às recomendações que eram a mim trazidas por eles.

Continuava um cego de olhos abertos.

Teimoso por excelência.

Terminava por me sentir depressivo pela busca incessante de prazeres que não contribuíam com o meu equilíbrio.

Entrei pela vias de acesso à ilusão vazia.

Desejava me preencher, mas nada me fazia ficar cheio de mim.

Havia um buraco o qual não comentava com ninguém. Ou melhor, não era um buraco, era realmente uma cratera.

Sofria à noite para entender onde realmente eu queria chegar.

Acho que a intuição me perseguia para que me ativesse ao meu interior, porque somente com a visibilidade interna, iria despertar para mim.

O tempo foi passando. Fui compondo histórias que somente eu tinha conhecimento.

Passei a me sentir poderoso, e não dava muita importância as pessoas queridas que    me   cercavam.

Era um lamento que dentro de mim acontecia.

Minha alma estava ferida como um pássaro que o caçador sem compaixão lhe acertara.

 Não consegui me reabilitar.

No fundo do poço e doente minha alma desejava se libertar daquele inferno que não era o de Dante, era bem pior.

A alma cheia de incertezas chora e nós não percebemos.

O tempo passou e eu segui o que achava certo, mas que infelizmente não era.

E com os excessos o fim trágico não tardou a chegar.

Cansado do fardo físico que me serviu na terra, libertei-me. 

Foi então que me deparei com um jovem inteligente,    mas sem sabedoria e bastante ultrapassado.

E neste ponto os meus enganos começaram então a ser desfeitos.

Os primeiros dias foram terríveis, aliás não sei precisar quantos, porque por aqui o calendário não é o mesmo que conhecemos.

Busquei entender todo o meu processo de vida.

Mas não era de uma hora para outra que eu iria conseguir.

Eu ingressara no mundo que me esperava: O dos mortos vivos, considerado uma perfeita academia de conhecimentos.

Por onde começar? 

Eu não sabia.

Um imenso véu de opções se descortinava após o reequilíbrio das forças da minha alma.

Envergonhado a cada descoberta, me sentia uma formiguinha trôpega e ainda inexperiente.

Uma luta se travou dentro de mim.

Iria recomeçar o meu aprendizado no mundo que agora também era meu.

Após os tratamentos de praxe, fui convidado a conhecer novas plagas.

Conclui que o mundo céu existia e era imenso, além do que poderia pensar.

Embarquei nas excursões que a mim eram oferecidas.

Nelas a minha participação inicialmente era apenas a de observar.

Deslumbrante tecnologia.

Deslumbrante amor por parte dos instrutores que são escalados para orientar aos reiniciantes.

 E eu era um dos que ficavam na linha de frente o que fiquei muito feliz por ter sido selecionado.

Meio que desapontado com o que via,   fui me acostumando à essa nova vida. Contudo, sempre lembrando os meus excessos.

Ao término desse estágio acolhedor, fui chamado para fazer alguns serviços durante as excursões ou melhor, nos atendimentos.

Mesmo acanhado, senti-me reconfortado e muito agradecido às oportunidades que Deus me concedia e também por está dando os meus primeiros passos.

 Quanto aquela cratera interna que lhes falei, passou a ser menor.

Ao me integrar as lides diárias fui me sentindo mais forte e mais concentrado em minha individualidade.

A saudade batia de forma mais leve.

Enquanto isso, alguns dos antigos familiares iam nos ver, nos apoiar e a nos explicar sobre a vida além do corpo físico sem os excessos, mas com um constante carinho.

Um dia que não sei quanto tempo depois, fui chamado à outra tarefa mais específica. Eu iria esclarecer à aqueles que como eu havia tido um passado com entorpecentes.

Achei uma ironia e uma piada de mau gosto.

Mas não tinha como recusar. Fui.

 Estágio difícil,   mas recompensador.

Até hoje continuo, mas isso não quer dizer que não possa me engajar em outro tipo de tarefa.

É interessante, mas os costumes terrenos vão aos poucos se esvaindo. 

A cegueira   se acaba dando lugar a uma visibilidade incrível de personalidade que antes abandonamos pelo egoísmo e pela falta de critério com a vida.

Enxergo pelo meu corpo inteiro e tenho como enaltecer e selecionar assuntos que me calam fundo.

Somos um só, cobertos de experiências     que nos facultam a ver melhor internamente.

Sou o mesmo em versão mais     consciente e resignado de que a morte física é necessária para que avaliemos a nossa falta de bom senso na terra.

Aqui o amor aparece nas pequenas coisas, nos pequenos gestos, nos fazendo ver o que não queríamos ver antes.

Esta é uma pincelada do que seja o plano invisível, porque há os que enxergam através da alma este mundo que é tão nosso.

 Dizemos que a terra é a nossa morada.

Mas a morada verdadeira é essa que vivemos: uma realidade insofismável aos nossos sentidos e a nossa essencialidade pura.

Viajar para esse dimensão é algo que nos responsabiliza, mas não nos faz ver a face do Cristo, porque não temos evolução para vislumbrá-la.

Vemos a nossa como somos e como seremos se platinarmos na senda do bem.

Românticos seremos se nos desprendermos das falsas visões do passado para sermos eternos como a água da fonte.

Seremos amados como seres especiais filhos dessa Fonte generosa de amor que nos traz de volta ao seu seio na hora certa.

A vida existe em essência e luz.

Erroneamente analisamos a vida como sendo perecível, mas ela é antiga e consistente.

Analisar uma existência equivale a analisar um sonho de uma noite bem dormida, é assim que aprendemos.

As vidas se sucedem e nós com a consciência que já temos, vamos   aos poucos nos organizando para no futuro habitarmos um novo corpo mais saudável e mais distante da inconsistência do pensamento desfavorável ao equilíbrio.

Somos força. Somos uma vida a desejar agora o melhor.

Enganos não pretendemos mais ter.

Basta, afinal agora temos como despertar a consciência para não reincidirmos nos antigos equívocos.

Já tomamos aulas sobre algumas etapas, e confesso que me assustei com as experiências descritas pela consciência milenar que possuímos.

Se fomos fatais em desamor, vamos agora revertê-lo florindo o nosso jardim à coesão da vida imortal.

Se acreditarmos no nosso poder de persuasão do bem, teremos como emitir sempre um fluxo de energias duradouras.

Encaminhados ao setor maior da vida que é o de servir, estamos agora curtindo a sensação de podermos nos entregar ao trabalho com a luz apesar da nossa pequenez.

Mas de onde estávamos fora da matéria já demos passos muito importantes ao nosso desenvolvimento.

Se nos amam na terra, hão de compreender     que estamos tentando driblar o nosso passado que conheceis em parte.

Não podemos mais alimentá-lo.  

Já o experênciemos e sabemos o quão foi difícil.

Agora é programarmos um futuro melhor de acordo com esse momento e os vindouros.

É bom lembrar que ninguém conquistou o direito de julgar ninguém.

O nosso passado não é nada agradável de se saber.Longe estamos de imaginar o quanto já deslizamos nos portais da vida terrena.

Um dia quem sabe quando estiverem preparados para vêem todos vão ter acesso a essas informações. Perceberão o quanto tocaram nas leis divinas, ferindo-as e por conseguinte receberam de volta o que aprontaram com o frutos da ignorância pessoal.

Portanto, ninguém está imune. Somos correligionários de um passado vil e que ainda teremos muito a ressarcir através do amor. Caso contrário, a desobediência nos fará reparar em dor.

Mas entre a dor e o amor, vamos preferir compreender as leis imutáveis da vida que são baseadas nesse sentimento profundo que sabemos   curar, reanimar, reerguer e amar por amar.

Mudamos aqui sempre para melhor.

Poderíamos ter reparado melhor a vida quando aí estivemos. Mas imprudentemente entramos pela porta da teimosia e perdemos um tempo considerado muito valioso.

Já acostumados a vida do espírito e com fé de que cada dia será um novo aprendizado, somos gratos a Deus pelo seu amor e pelas oportunidades oferecidas a quem necessita fazer uma triagem sobre o tema “Entendimento”, para fisgar o doce sabor da imortalidade da alma, em poesia em trabalho, em inspiração,    em traços de amor à vida no hoje para   melhor compreendê-la, analisá-la e amá-la.

       Sem a conotação do “tô nem aí”, sou agora um trabalhador ainda braçal das   hostes de Deus:   Renato Russo

                   Canal: Francyska Almeida-070209-Fort-Ce.