Juro que eu não queria... - Roberto Marinho

Juro que eu não queria... - Roberto Marinho

 

Foi difícil conceber que eu fora levado para bem distante dos meus. Tentei convencer São Pedro para me levar de volta à terra.

São Pedro? Não, nunca vi esse tão falado santo que dizem conduzir consigo as chaves das portas do céu. Eu tentava visualizar o meu corpo físico que estava sendo velado. Mas eu só via gente diferente de camisolão. Uma loucura. Meu negócio não era aquele, como eu iria usar aquela longa túnica se o meu tipo de vestuário era outro? Camiseta preta ilustrada de abutres, Pierce etc. Estrebuchei porque não queria ficar ali com aquela galera séria demais para o meu gosto. Mas o fato é que eles me olhavam com tanta ternura que ficava meio sem jeito. Eu sabia que o meu corpo não acordaria mais. Contudo eu queria tentar, não existe os milagres que a Bíblia fala tanto, digo isso porque me diziam sempre, mas ler esse livrão que dizem ter toda a verdade do mundo, isso eu nunca fiz. Bem, mais e aí depois que enterrassem o meu corpo como faria? Gritei até não poder mais.Era um grito diferente de quando se está na terra digo, vivo, ou melhor quando estávamos no nosso corpo, sei lá!

Sentia meus amigos em redor do “caixãozão” bonito, sim porque meus pais eram metidos a rico e não iriam de maneira alguma querer que eu me enterrasse em um daqueles “mixurucas”. Meu Deus as horas se passavam e nada de ser atendido. Estava exausto. Tentei outra estratégia, tocava nos amigos de camisolão e perguntava se não iriam fazer nada por mim. Eles diziam que lamentavam porque o inevitável aconteceu. E um deles chamou-me a conversar. Tocou em minhas mãos e me encarou. Tive medo de que a coisa realmente tivesse acabado ali. Até que me acalmei um pouco e o camarada entrou fundo no meu problema. E a mim assim se dirigiu: Caro amigo, o que você fez de bom na terra para exigir tanto aqui em cima?

Que cuidados teve com a vida que Deus havia lhe dado?

Que obediência sempre guardou aos seus pais?

Quantas pessoas tentou ajudar na terra e por aí... Mas eu realmente não tinha predicados. Não estudava, não trabalhava, somente gastava o dinheiro do “velho”.

E comecei a compreender que eu mesmo havia facilitado àquele triste desenlace. Então   ele questionou outras tantas “coisitas”.

Eu estava desarmado, não tinha sequer um galho para eu me segurar para justificar algo de bom que precisava.

Acalmei-me e até esqueci um pouco o meu corpo que a essa altura já estava prestes a sair em direção ao cemitério. Loucura, agora estava ali desarmado literalmente. Eu que sempre fui cheio da razão e tinha explicação para os mais pobres conceitos?

Parece que não tinha mais armas para lutar e voltar a viver. E o que eu iria fazer agora, se eu tinha morrido, mas estava ali vivinho da silva?

Sabe que eu nunca tinha pensado nisso?

Nunca fui afeito à religião, os meus pais iam a missa, mas eu não, nem de padre eu gostava.

Fui convidado a repousar e logo compreendi que eu não queria morrer mas facilitei naquela jogada que deu para mim xeque mate, o circo havia sido armado por mim. Eu era um quase suicida. Cruel imaginar que não iria usufruir de tudo quanto usufruía na terra. Tá certo que mamãe e papai que tiveram tanto trabalho comigo, ficariam agora mais aliviados porque eu estava trancado do lado de cá e não faria mais nenhuma peripécia.

Eu mesmo havia aberto minha sepultura. Foi consumada a minha compreensão. Tive vontade de chorar até não querer mais. Tinha dezenove anos apenas e tinha uma folha extensa de desvios. Sempre fui rebelde, queria o mundo só para mim.

Imortalidade? Nunca pensei nisso. Agora eu estava ali nas mãos de Deus?

Que Deus?

O amigo falou: O Deus que fez tudo, que te fez, que te quer bem... Eu estava atônito com tantas informações naquele país que não era o meu, ou era?

Bem, fui descobrir mais tarde que o outro mundo é que é a nossa casa verdadeira.

Fiquei em um quarto cheiroso cheio de luzes azuis. Eu iria passar por um tratamento?

Tratamento? Então no outro mundo tinha hospital? Que surpresa inusitada! Hospital? Sim era um hospital destinado a casos como o meu. E depois dessa internação o que seria de mim, encontraria alguma galera para somar outras experiências tal como com o tipo de tribo a que pertenci?

Sei lá, eu esperaria para saber da minha vida nova. Senti uma forte intenção de que ali não era a terra que a gente praticava um monte de indisciplinas. Mas aguardei sair daquele pesadelo. Esse tratamento consistia de terapia, palestras, carinho conscientização. Literalmente era outro mundo que eu estava vivendo.

Não sei por quanto tempo fiquei nessa enfermaria, mas a gentileza e a generosidade era de primeira. Havia jovens bem mais do que eu que faziam com muito carinho a sua parte no tratamento. Aliás, jovens e moças, cada uma que dava gosto. Algumas eu olhava e pensava: Ah! se eu estivesse na terra. Bobagem, agora eu teria que entrar nos eixos do lado de cá. E fui me acostumando aquela vida de chás, energias, caldos energéticos, etc.

Pensava, como será que estão os velhos, aliviados ou com saudade? E foi aí que tive uma vontade imensa de pular a cerca e fugir. Antes que eu falasse alguém já sabia do meu plano e eu murchei.Chamei a bela jovem e perguntei: será que eu não posso ir lá na terra somente dar uma voltinha?

Ao que fui informado que ainda não estava na hora. Eu estava em tratamento e a minha presença iria desnorteá-los. Aceitei. Mas agora que eu estava melhor queria entrar em uma tribo parecida com a que eu tinha antes.

Ah! Como estaria aquela galera?

Não fui nem pedir, porque sabia que não teria autorização para ver nenhum dos meus companheiros antigos. Tinha muitas dúvidas com relação ao meu futuro naquele país. Só tinha uma coisa a fazer, era deixar o tempo correr. Não tinha mais como fazer e acontecer, agora estava sob rédeas firmes que envolvia a disciplina. Fiz novas amizades, não exatamente aquelas as quais desejava, eram outros “papos”. Foi mal, eu pensava que...

Chegou o dia em que seria treinado não sei para quê, afinal eu logo iria saber.

Fui levado à presença de um amigo superior, alguém extraordinário. Ia me dar uma oportunidade para aprender com ele. De cara eu gostei. Um jovem cheio de luz e de decisão e aí a gente ficou frente a frente. Ele perguntou-me: Como é o seu nome? Fernando. E o seu: Luiz Sérgio, já me familiarizei porque tinha um amigo lá em baixo com esse nome. E aí a gente ficou a vontade. Ele estava disposto a me ajudar a esquecer da terra e discorreu sobre a sua vida, a forma que tinha voltado e outros detalhes. Contou-me que para ele também foi difícil aceitar de imediato, mas logo se aprontou para se desenvolver. Contou-me um pouco da sua trajetória, ação, livros, socorro, projetos, etc.

Fiquei muito empolgado com a sua história. Será que eu iria conseguir dar a minha volta por cima e me turbinar de amor como ele me falou?

Bem   se ele conseguiu eu haveria também de dar o meu salto! Candidatei-me para ajudar aqueles que como eu chegam em desespero. Só não sabia como faria essa abordagem. Mas de repente ele leu o meu pensamento e acrescentou: Daremos as coordenadas amigo Fernando. Aqui temos o caminho do amor e da benevolência a trabalhar. Se você realmente quer pode dar a volta por cima. Agora eu iria conhecer o que nem imaginava. Estava mais leve, mais tranquilo e busquei integrar-me ao que me era repassado.

O tempo passou e eu queria saber como andava a camaradagem da terra. De novo recebi não, a terra poderia me arrastar para aqueles prazeres que não me levaria a lugar algum e nada mais tinha a ver comigo.

Busquei estudar, aprender mais sempre com boa vontade. Fui descobrindo o que guardava dentro de mim e aos poucos fui me tornando auxiliar dos auxiliares o que me preenchia e me dava muita alegria. Entrei na dança e tornei-me mais tarde um pequeno trabalhador que, aliás, é a grande saída. Parar não dar, porque a vida é movimento, onde ela está, se plana.

Mas esse relato é somente para falar dessa experiência que vivi que foi atroz. E também para levar um recado a moçada para que preserve o fio iluminado de suas vidas enquanto estiverem na terra. Os prazeres passageiros são excessivamente chamativos. A rebeldia, o descaso por si é compromisso que assumimos em matéria de transgressão das leis de Deus.

Estou a quase dez anos em tarefas, cursos me reciclando sempre .Lembram que me assustei quando me falaram de hospital, tratamento?

Isso é “tiquim”, aqui é um mundo transparente, sensacional, com tudo que se tem direito para evoluir, às nossas custas, claro.

Faculdades, teatros, escolas, cursos, diversão televisiva, algo bem diferente da telinha daí.

Bem encontrei esse moço, digo moço porque ele está muito jovem, um jornalista grande que o Brasil conheceu, homem sério, trabalhador e lutador pela vida e pelos seus ideais, então entramos em conversação e ele pediu-me para ser entrevistado, só que agora percebi que sou eu quem está no seu lugar. De qualquer forma, repassei um pouco do meu antigo desespero, não com as mesmas tintas, uma pincelada somente. Estou muito feliz por essa oportunidade e vamos ver agora o que ele tem a me perguntar, afinal sou eu o entrevistado.

- Caro amigo, falastes muito bem que cheguei a devanear em tua fala do passado. Pensei: muitos pais não se informam a respeito da vida para ensinar aos seus filhos. Muitos pais não têm harmonia e passam stress aos seus filhos.Todos viemos de uma semente muito pequena e a regra era crescermos até fazer germinar e nascer outras sementes. A vida meu caro Fernando é muito grande.Os pais acham que dando toda indumentária física, alimentação, escola, etc. são tudo que pode preparar o futuro profissional que o garantirá. Mas estou me referindo ao futuro universal, alma em evolução para se tornar uma luz trabalhadora em favor dos que sofrem.

Os pais precisam de Deus e do seu amor. Muitos também se preocupam com a religião e a tem até para parecerem chiques!

Como o homem terreno vive desalinhado com a sua própria verdade!

E em sendo pais e mães assumem um posto de educador que não exercem a contento, lamentavelmente.

Você meu caro trabalhador de Deus, poderia ter tido na terra mesmo uma noção da imortalidade. Assim como outros, para não serem acometidos de surpresa.

Mas o passado está extinto, nos servirá como alicerce para futuras experiências na carne. Você caro Fernando, é um grande exemplo e ainda voltará à carne para fazer diferente exercitando as suas qualidades morais adquiridas em sua causa própria para levar em plenitude quando assim for escalado.

Pretendes voltar a carne em breve?

- Não me sinto ainda em condições, desejo aprender mais para trabalhar com o meu público alvo, os jovens. Creio que daqui a uns cinco anos, tempo da terra pedirei licença ao pai e espero que Ele me conceda.

Então amigo, estou feliz por você pela nova consciência. E ninguém deve se culpar por errar, pois se acerta se reconhecermos os nossos erros, e sem eles não haverá correção.

Agradeço-lhe pela ilustração desse trabalho simplório que juntos fizemos para contribuir com a reflexão de muitos na terra, concordas?

- Sim meu nobre jornalista. Evidente que sim. Desejo agradecer-lhe e dizer que a experiência foi fantástica.Sinto-me, mas leve e mais compenetrado após esse ensaio consigo. Um dia por certo pela lei das afinidades nos encontraremos, não achas?

- Sim meu caro jovem.

- Desejo-lhe muito mais aprendizado na escola da vida e com o amor que já possui em teu coração, tenho a mais ampla certeza de que já és um grande campeão.

Siga todo exemplo que aprendestes ao lado do guerreiro Luiz Sérgio, menino que ilumina aonde chega. Que Deus o preserve nessa caminhada que fazes de consolo em atendimento as almas enfermas. Quanto a mim estarei ao seu dispor com a pouca bagagem que também já consegui por aqui. Até um dia e aceite meu abraço de pai ou de avô e de amigo.

- Fico-lhe muito agradecido e dizer para o senhor que sempre o admirei como homem de imprensa e como homem empreendedor que esnobava respeito para com os seus comandados na terra. Brindemos a vida com o amor que temos e ao que ela merece.

- Vivenciaremos novas oportunidades na carne,porque não podemos mudar, mas para a grande escalada do progresso em prol de nossas almas que ainda precisam de um autêntico aprendizado.Que as lições amigo Fernando que nos são repassadas, sejam absorvidas em nosso ser para a glória de nossas essências imortais. Até um dia Fernando.

-Até um dia caríssimo jornalista do plano dos espíritos.

- Até um dia sim pelas leis que nos regerá sempre. Com amor e discernimento:

 

Jornalista Roberto Marinho, diretamente do plano de cima.

Canal: Francyska Almeida-set/2007-Fortaleza-Ce.